ANTÓNIA


Exemplo dum caso de Terapia Regressiva de Memória

Cesariana com anestesia geral…

Por vezes tenho-me questionado porque será que algumas pessoas terão receio da hipnose. Na realidade, tenho notado que maioritáriamente se identifica também a Terapia Regressiva de Memória como uma técnica indutora hipnótica, que auxilia o indivíduo a ir algum lugar – talvez a uma vida passada, identificando este processo terapêutico com uma pratica semelhante ao que poderíamos considerar ser uma viagem fora do corpo – talvez perigosa, ou quanto muito estranha… da qual poderão eventualmente resultar possíveis consequências no estado psicológico.

Poderei naturalmente concordar na existência dum receio normal naquilo que é o desconhecido para nós, ou mesmo de se supor que a terapia regressiva possa ter riscos. Esta última hipótese pela simples razão de que tal como em qualquer outra área, se a TRMT (terapia regressiva de memória transpessoal) não for executada por um técnico classificado e reconhecido pela sua competência profissional – ou de quem se saiba ter formação e alguma experiência, o melhor será talvez evitar fazê-la. Como em qualquer outra pratica terapêutica ou mesmo médica, na TRM o bom resultado dependerá sempre da consciência, da experiência e ética profissional de quem a pratica… devendo-se ter especial atenção pela forma como se termina cada sessão. 

Porém, e regressando ainda ao medo da hipnose, eu poderia salientar que na realidade todos nós já fomos induzidos por estados alterados de consciência semelhantes ao estado hipnótico, em alguma fase da nossa vida, mas principalmente entre o período uterino e o da primeira infância. A atividade predominantemente Delta e Teta expressa em crianças menores de seis anos significa que os seus cérebros estão a operar em níveis abaixo da consciência, que se define como um estado cerebral designado como estado de transe hipnogógico – o mesmo estado neural que os hipnoterapistas usam para transferir, diretamente, novos comportamentos na mente subconsciente dos seus clientes. Por outras palavras, poderemos referir que até aos primeiros seis anos de vida da criança, ela está em transe hipnótico!

As perceções que uma criança tem do mundo são transferidas, diretamente para o subconsciente durante este tempo, sem discriminação e sem filtros da mente analítica autoconsciente, que não existe, plenamente. Por conseguinte, as nossas perceções fundamentais sobre a vida e o nosso papel nela são apreendidas sem que tenhamos a capacidade de escolher ou rejeitar as crenças.

Estamos, simplesmente, a ser programados com essa idade…

Todos nós sofremos no passado de comandos ou âncoras hipnóticas dadas por outros – nomeadamente pelos pais, enquanto crianças… No dia a dia é comum serem utilizadas formas subliminares de indução – através dos media de várias formas – ou mesmo em técnicas comerciais de venda em diferentes locais…

Poderá o medo da hipnose advir de se poder perder o controlo da mente ou de pretéritas más experiências em EAC (estado alterado de consciência), das quais não nos recordamos? Talvez. Na realidade, na grande maioria dos pacientes que tenho tratado não terá sido necessária a prática de hipnose pois já vêm para a consulta “hipnotizados” no seu passado por algo – talvez por um trauma, ou por situações da vida que os afetaram… Por outras palavras, muitos seres humanos encontram-se em transe inconsciente sem o saberem. Sobrepor um indivíduo que já sofre de transe hipnótico noutro estado de hipnose para o tratar, poderia designar-se ser um processo semelhante ao de dar cerveja a um alcoólico que é viciado em vinho, para o tratar de alcoolismo. Ou seja, o que iria fazer-se seria substituir um vício ou um hábito por outro, sem lhe dar o livre arbítrio duma decisão consciente – sobrepondo-se um estado de hipnose a outro já existente. Naturalmente que se poderia alterar o vinho por água, seria bem melhor… embora existisse sempre uma âncora de substituição hipnótica duma dependência por outra…

Do meu ponto de vista, sempre que possível, o ideal será oferecer uma TRM mais saudável ao paciente, libertando-o do estado hipnótico onde ficou preso – ou seja, tirando-o desse passado onde está bloqueado e, trazendo-o para a sua vida presente mais consciente, dando-lhe naturalmente sempre a liberdade de escolha naquilo que pretenda fazer.

Se quiséssemos ter um exemplo do que poderíamos definir como sendo uma indução para um estado de transe hipnótico profundo num bebé, seria o caso dum nascimento difícil e traumático, com pratica médica de cesariana na mãe, depois dum trabalho de parto doloroso e difícil – o qual só por si induz a um EAC com resultados que poderão ser graves mais tarde, para o indivíduo que nasce desta forma. 

Se neste exemplo acrescentarmos que a mãe tenha recebido uma anestesia geral durante o parto, poderíamos definir aqui sem dúvida, a existência dum triplo trauma neste recém-nascido. A droga química que a mãe ingeriu passou para o filho e ficou nas células deste. Além do próprio sofrimento que o bebé sentiu, a experiência da mãe é absorvida também pelo filho, salientando-se que o mesmo não terá passado pelo que poderíamos designar como um nascimento “normal”… 

Visto de outro ângulo, este pequenino ser nasce já drogado. após ter estado em sofrimento e acorda fora da barriga da mãe devido à anestesia, muitas vezes 2 ou 3 dias após a sua saída do útero materno, fazendo a sua passagem para este mundo duma forma que não terá sido nada natural.

Na verdade, todas as anestesias gerais produzem estados idênticos a um transe de hipnose profundo, bem como todos os estados de coma – induzidos ou não, assim como todos os traumas. Mas estas serão só algumas das diferentes formas em que poderemos ter sido induzidos a um estado idêntico ao duma hipnose. ao longo da nossa vida… sem o sabermos. 

Infelizmente a pratica de anestesia geral é cada vez mais corriqueira em alguns países, nomeadamente nos EUA. Estudos estatísticos recentes referem também que pessoas que tenham sofrido no seu nascimento duma anestesia geral dada à mãe, têm maior propensão à utilização de drogas mais tarde. Porém infelizmente, não será só esse o aspeto que poderemos salientar como tendência não muito positiva para o indivíduo que passa pela experiência deste tipo de parto.

Vamos fazer um parêntese aqui para vermos o que estamos a referenciar, visto de outro ângulo. Simbolicamente vidas passadas vêm do que poderíamos designar como sendo duma memória do infinito desconhecido – das experiências da Alma. A vida presente é o finito – a matéria – a realidade atual. Então, poderíamos talvez referir que o nascimento é o momento em que o infinito se transforma em finito… e, em que os processos dum passado são reabertos…

Na verdade processos traumáticos por resolver que vêm de vidas pretéritas, estarão a ser relembrados através da experiência dolorosa deste tipo de parto – os quais poderão ficar salientados e agravados, através da droga da anestesia. Para além disto, o bebé acorda fora da barriga da mãe sem ter verdadeiramente passado pelo seu nascimento, ou seja – por um parto natural. Ele lê esta mensagem e entende-a como se tivesse ficado ainda preso na experiência dum passado qualquer em sofrimento. Na realidade, em parte para o novo ser, é como se não tivesse ainda renascido noutro corpo – pois acorda já cá fora, sem ter feito qualquer esforço, ou passado pela experiência normal do nascimento. Este fato, como se poderá prever, não será nada saudável para a nova vida física desta alma. 

O bebé nesta fase funciona duma forma que poderemos simbolicamente definir como sendo um gravador que regista tudo o que se passa no seu ambiente, considerando o que grava como sendo algo necessário para a sua sobrevivência, a qual irá posteriormente fazer parte da sua existência.

Antónia teria sido o caso típico dum bebé que nasceu de cesariana, com uma anestesia geral dada à sua mãe durante o parto… 

Basicamente, quando veio ter comigo sofria de fobia social, agitação e pânicos – nomeadamente queixava-se também do medo de poder ter filhos. O bruxismo à noite também a afetava no seu sono. Sofria de problemas relacionais – a sua relação com os pais nunca tinha sido muito positiva, principalmente com a mãe. A relação conjugal também se estava a deteriorar, nomeadamente por não querer engravidar. O seu medo de perder o controlo de algo e de se expor em TRM era também visível. Antónia via o mundo onde estava inserida com inseguranças, sentindo que tudo que queria desenvolver na vida, lhe era difícil atingir…

“Sabe que hoje tenho-me sentido tonta, nauseada?” questionou-me. Era relevante que o sintoma da anestesia já estava presente… O nosso corpo sabe tudo e, o que já estava a manifestar era algo que há muito existia e que era preciso ser tratado. É muito comum os pacientes surgirem na sessão com os sintomas que necessitam de resolver – é na realidade o corpo a chamar a atenção. Daí eu dizer que já vêm em estado de transe hipnótico…

Surge então de Antónia a pergunta típica destes casos: “Como vai funcionar a sessão de Terapia Regressiva? Vou ser hipnotizada?” Olhei para a cliente com vontade de me rir um pouco dos pensamentos que me advinham por tantas vezes ouvir esta pergunta… respondendo: “Não. No seu caso, você já nasceu hipnotizada… Aquilo que eu vou fazer é tirá-la do transe de hipnose que sofre, desde essa altura… desta forma irá ficar na sua vida atual mais consciente e serena…” Pareceu assim ficar mais descansada, com a minha resposta.

“…E se eu for a uma vida passada e não voltar?” – colocou como outra pergunta – também típica da insegurança que sentia. Respondi-lhe então: “Antónia, você não irá a sítio algum. Vamos ter só acesso  às memórias que estão no inconsciente, dos processos que a afetaram no seu passado e nada mais…” continuei: “Para além disso julgo não ser necessário irmos a vidas passadas suas. Logo veremos…”

Era notório que a sua relação com a mãe tinha sido marcada pela gestação e nascimento. Também nestes casos será importante resolver-se no aqui e agora – na sua vida presente, os traumas existentes, antes de pensarmos em irmos mais atrás. Em grande parte destes processos isso nem sequer irá ser necessário… Será muito importante reconstruir o seu nascimento natural duma forma que se possa sentir como “normal e saudável” nas suas células, libertando-se do sofrimento e da dor, para que todos os seus bloqueios e problemas – nomeadamente os da sua saúde física e psíquica – fiquem estabilizados e recuperem – naturalmente tentando evitar-se as técnicas de hipnose, pois o resultado terapêutico poderia não ser consistente ou estável definitivamente. Quanto mais consciente estiver Antónia, melhor será o resultado. 

Na primeira sessão alternou-se entre a barriga da mãe no pré nascimento e nascimento, bem como constelações familiares – nesta última abordagem tendo surgido o processo com a sua mãe, e também o de uma avó materna já falecida – a qual ainda influenciava a família – principalmente os filhos com o seu estado de espírito, naturalmente afetando também Antónia através da sua ligação com a mãe. 

Porém, o que terá sido relevante aqui, é que passados menos de 4 minutos de termos iniciado a sessão de TRMT, a cliente foi diretamente para o seu processo traumático de nascimento… algo que começámos a trabalhar em primeiro lugar.

“Eu não consigo sair!!! Estou presa!!!…” grita, evidenciando a memória duma agonia quando tentava sair do canal vaginal da mãe, mas não conseguia… Emoções fortes sobressaiam nesse momento entre o medo de não conseguir, a culpa por fazer sofrer a mãe e a zanga por ter de passar por uma experiência dolorosa ao tentar nascer – zanga essa que era também contra si própria por não conseguir fazer aquilo que esperavam dela. A pressão para tentar sair era bastante forte, ocasionando-lhe dor na parte superior da cabeça… dor essa que teria começado a somatizar-se no início da sessão…

Começámos então a reconstruir o seu nascimento natural em vários âmbitos diferentes…

Posteriormente na sua segunda sessão, iniciámos o trabalho da eliminação da droga da anestesia que recebeu no parto. Cargas fortes foram descarregadas passo a passo, eliminando-as da célula.

Ao longo das sessões esta cliente começou a sentir-se completamente diferente. Os pânicos e inseguranças desapareceram totalmente, bem como o bruxismo. A sua vida social e familiar transformou-se por completo. O seu medo de poder ficar grávida deixou de existir.

​​​​De forma alguma neste caso, terá sido necessário abordarem-se vidas passadas para ajudar Antónia… o único passado que fomos foi o da sua vida atual, trabalhando-se os processos plenamente consciente – sem a necessidade de hipnose ou mesmo de relaxamento prévio, embora possamos dizer que o seu estado normal durante a sua vida toda tenha sido sempre em transe… uma forma de estar à qual já se teria habituado desde que nasceu.

Benjamim Levy


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