CARLA

A Terapia Regressiva de Memória e o trauma da anestesia

Uma criança dentro do arame farpado…

O ser humano julga muitas vezes que aquilo que o perturba ou afeta tem origem em algo externo a si próprio, ou mesmo até que possa ter sido criado pela sua própria mente. Mas… não estarão estas duas hipóteses a limitar outras possibilidades? Será também que por termos conhecimento da origem duma perturbação, possa tal ser suficiente para se eliminar o que está a afetar o ser humano, duma forma estável e permanente? … Ou haverá algo mais a fazer-se? Claro que a mente humana adora saber que tem o conhecimento da causa… pois isso dá segurança e faz-lhe sentir que pode controlar o que perturba. Mesmo até quando os sintomas que afetam regressam mais tarde, a mente consegue enganar-se a si própria, dizendo nessa altura que tudo está bem – talvez já por hábito de se iludir…

O fato que vos irei contar parece no entanto reconhecer a existência de outras hipóteses…

Quando conheci Carla pela primeira vez – uma jovem mãe casada, logo tive a estranha sensação de esta ser bastante desenraizada, desconectada dela própria e da vida, começando até mesmo por estar desfocada de qualquer projeto profissional estável – cuja realidade parecia estar bem consciente. O seu percurso de vida bastante acidentado, em que terão ocorrido situações traumáticas, intervalado com períodos de mágoa e tristeza, pareciam no entanto constatar com o seu caráter disponível e sociável. Contou-me também ter-se sempre sentido atraída por situações limite, mesmo suicidas, ou no mínimo perigosas… desde a adolescência. A sua vida profissional encontrava-se parada, sem sentido, embora continuasse a tentar encontrar soluções. Apercebi-me nela no entanto, dum forte potencial – até mesmo nalguma área como terapeuta.

Carla já teria tentado tratar-se com diferentes tipos de abordagem procurando soluções para os bloqueios de que se queixava, antes de mergulharmos nos processos mais profundos do seu ser, com a Terapia Regressiva de Memória. Eu próprio já a teria aconselhado previamente a fazer uma limpeza espiritual e energética numa área diferente daquela que é a minha forma de terapia.

Tendo tido um nascimento difícil e uma mãe depressiva, não me parecia serem no entanto, estas somente as origens para todos os bloqueios que padecia…

Começámos em TRM por abordar diferentes questões relacionais, que concordámos serem bastante importantes. Mais tarde, quando Carla veio para a quarta sessão, pretendia desta vez resolver a tendência que tinha de desistência nos seus projetos – os quais não acreditava previamente que pudessem dar certo. Havia na realidade uma falta de vontade e de estímulo para fazer aquilo que poderia ser bom para si – tal como se existisse uma espécie de autossabotagem inconsciente. A realidade é que esta cliente estava desempregada e sentia que nenhum projeto que tinha tentado iniciar teria conseguido realizar-se. As formações e estudos em que teria investido não estavam a produzir frutos…

Para além dum nascimento traumático, na sua anamnese constava também uma operação com 4 anos de idade, com anestesia geral, no qual por engano médico, em vez de lhe fazerem a cirurgia aos pólipos nasais – onde teria sido suposto ser feita, por engano terão executado a intervenção aos adenoides da garganta – a qual decorreu mal e, onde teve hemorragias internas. Por outra falha médica não tinham a informação do seu tipo de sangue quando tal aconteceu. Esta situação levou-a a uma experiência de quase morte, de onde poderia não ter regressado… Decidi que seria por aí que teríamos de ir desta vez.

Apercebi-me que no dia dessa cirurgia, somente a sua mãe se estava a deslocar com ela para o hospital, fazendo-lhe queixas por o pai não estar presente – algo que produziu na Carla um sentimento de abandono e tristeza… e foi com esse espírito que ela entrou no hospital…

Avancei um pouco mais a partir daí – “Quem está consigo na sala de operações?” – perguntei. “Estão várias pessoas… enfermeiros, médicos. A minha mãe está comigo… estou ao colo dela. Estão mais meninos… põe-lhes coisas na boca… Há uma enfermeira que vem colocar-me uma máscara” continua descrevendo-me e explicando-me como lhe dão a anestesia. “ A mãe diz-me que não dói nada…”

Comecei por perguntar: “Alguém diz mais alguma coisa?” – Continua – “A enfermeira diz-me: Vais dormir… Mas eu sei que não vou voltar… A enfermeira tira-me a máscara mais tarde e vem buscar cada criança individualmente para a marquesa…”

Depois duma pausa, continua Carla: “…Vêm-me buscar para o banho… estamos várias crianças a deslocar-nos para lá. É um local fechado. Dizem-nos que temos de tirar a roupa toda…”

Apercebo-me que Carla já não está na sala de cirurgia totalmente. Há uma parte da sua alma que está a ver o que se passa nessa mesma sala, mas outra parte de si já está numa memória duma outra época… “Fui separada da mãe antes de vir para aqui… disseram-nos que temos de tomar banho…” – conta-me – “Disseram-nos também que temos todos de permanecer juntos… alguns meninos choram com medo.” “Como chegaram até aqui?” – Questionei. “Viemos em vagões cheios de pessoas…” responde – “Depois soldados esperavam-nos e separaram-nos… disseram que separavam os homens das mulheres porque não gostavam de misturar as pessoas. As crianças depois de tomarem banho iriam regressar para junto das mães…”

De repente surgiu-me o nome do local onde ela se encontrava: Auschwitz. Carla estava a contar-me uma experiência sua numa vida passada, num campo de concentração e extermínio nazi da segunda guerra mundial. Os momentos seguintes foi para me descrever pormenores vistos pelos olhos duma criança sensível e amedrontada, acabada de chegar a este local, ficando separada do resto da família. Vi-me transportado novamente para o sofrimento de almas irmãs nessa época. Senti-me dentro deste campo de concentração – entre a frieza dos soldados, que se confundia com o próprio frio do clima local. Os avisos de “Achtung… es ist verboten…” descreviam-me bem um sítio que já me era familiar. Esta cliente contava-me porém vários aspetos pormenorizadamente com uma sensibilidade profunda – entre o arame farpado da entrada naquele campo de extermínio humano, até às salas de gaz. Carla descreve-me que as crianças deixavam as suas roupas e coisas pessoais numa caixinha, dizendo-lhes para entrarem depois dentro duma espécie de sala grande de banho e para se colocarem debaixo das saídas de água do teto. “No entanto, depois de eles terem fechado as portas, daí não sai água mas sim um gaz.” – Diz-me, sentindo-se a sufocar… e a ficar em pânico. “As crianças todas gritam e choram…” A dor faz-lhe doer os pulmões e o peito… e pensa nesse momento na sua mãe. Queria que ela viesse buscá-la, mas já não tem forças para gritar. “Quero a minha mãe!!… Porque é que ela me mandou para aqui? O que fiz de errado?” – Diz chorando. Pouco tempo depois esta criança morre entre muitas… e os corpos ficam empilhados no chão, agarrados uns aos outros. Por cima dos corpos estão ainda algumas das suas almas, que se encontram perdidas, bloqueadas neste lugar. A alma desta criança também lá se encontrava…

O que acontece depois?” – Pergunto. “… Depois entram uns homens com umas máscaras. Pegam em nós e atiram-nos para uma caixa de metal grande, duma forma tão desprendida…” diz-me chorando – “Gostava que pegassem nos corpos com mais respeito. Tratam-nos como lixo.” Continua Carla descrevendo desta vez a sua vivência pós-morte. “ As mães estão do outro lado e estão a preparar-se para tomar banho também…” diz-me, começando a preocupar-se com a sua família, começando a entrar em crise. “Será que vale a pena viver?!!” Tenta avisar a mãe, o pai, os irmãos, mas não consegue. “O meu irmão sente a minha presença mas não me vê…” – grita – “Eles morrem todos…” Toma consciência depois, que talvez fosse melhor terem terminado assim. O pai ficou vivo mais tempo para trabalhar, mas padece de fome, maus tratos e tristeza. Descreve-me que as suas almas tentaram acompanhar o progenitor querido… “Nós tentámos ajudar o pai, em espírito… a tentar dar-lhe forças. Ficávamos ao pé dele à noite. Estava muito magro, sentimo-nos impotentes. Ele ficou ainda dois anos ali e nós também… mesmo depois da sua morte ficámos todos mais de meio ano. Não sabíamos como sair deste local…”

“Como saíram?” – Questionei. “Veio depois uma Elite de Luz e fomos levados por eles…” – responde-me – “… Veio uma frota muito grande… e puxou-nos a todos. Havia muitos espíritos ali presos. No início tivemos medo ao sermos puxados, pois pensávamos que íamos passar por algo mau outra vez… mas depois sentimo-nos bem…”

Compreendi porém que quando isso sucedeu, a sua alma deixou nesse momento de ter noção de si, ou dos seus sentimentos – já não era uma criança outra vez – permanecendo a sensação de ter terminado algo, como se fosse finalmente para casa, num reencontro de antigos amigos após ter sido salva, sentindo-se confortável e, com alívio.

Carla descrevia-me esta memória, ao mesmo tempo que intercaladamente me contava a sua experiência na sala de cirurgia, onde com 4 anos e anestesiada sofria uma intervenção que a poderia ter morto. Para não ser muito confuso para si leitor(a), separei aqui as duas vivências e irei contar um pouco da experiência de Carla, também fora do corpo nesta mesma sala de cirurgia. Irei regredir novamente para o momento em que ficámos – em que a enfermeira a estaria a levar para a marquesa na sala de intervenção e onde lhe surgiu ao mesmo tempo, uma memória de estar a ser levada para uma sala de gaz, numa época na segunda guerra mundial.

“O que ouves na sala?”– Pergunto-lhe sabendo que Carla já estava anestesiada – “Estão a conversar sobre a vida deles. Há um desinteresse e uma falta de respeito pelas crianças. Estão preocupados só com a vida deles…” Diz-me referindo-se a médicos e enfermeiros – “Enganam-se, fazem buracos no sítio errado… deviam estar mais atentos… Parece-me que estão a falar de gajas…” Carla sente-se violentada, pois estão a cortar o seu corpo – “É como se estivessem a cortar um bife… Há um que fala muito e que depois diz: Vamos lá despachar isto… (para a anestesia não deixar de fazer efeito).” Carla sentiu que talvez pela impaciência, ele estava a fazer algo de errado… Tenta pará-lo. O seu espírito tenta chamar a atenção, sentindo ódio pelo desrespeito dele.

Depois começa a afastar-se do corpo… cada vez mais longe, sem vontade de voltar. Regressa só depois quando a estão a tentar acordar, já no quarto – é a sua mãe que está a tentar acordá-la. Porém a vontade de voltar não é muita. Sente no entanto que a progenitora iria ficar triste se não regressasse. “Preferia não ter voltado…” diz-me a chorar. Entra em convulsões e devido à hemorragia interna tem uma grande quantidade de sangue no estômago, começando a vomitar. Tem muito frio, pois tinha perdido sangue. A mãe está apavorada e vai chamar alguém a correr. Vem finalmente uma enfermeira velhinha que tenta encontrar as veias para lhe meter uma seringa, mas com muita dificuldade, espetando-lhe várias vezes o braço. Ouve a enfermeira balbuciar algo baixinho, tal como: “Isto não vale a pena…” Estas palavras ressoam dentro de si, ainda anestesiada. A criança sente que a enfermeira é má… Parece-lhe estar noutro mundo. “Eles não fazem as coisas com respeito, com calor humano. São crianças que ali estão… Eles são tão frios. A vida assim não vale a pena…”

Das palavras que ouviu no ambiente circundante estando anestesiada e da experiência que estava a ter, Carla identifica-as reabrindo programas traumáticos que vinham com ela duma outra época e, que tinham permanecido na sua vida até àquele momento, tal como um estado de espírito induzido hipnoticamente. Até mesmo as próprias palavras que ouviu da enfermeira antes de levar a anestesia: “Vais dormir…” – as quais não tinham sido desprogramadas – ativaram-lhe um Estado Alterado de Consciência que ainda continuava a existir. A droga da anestesia permanecia na célula como um programa autodestrutivo que tinha de ser limpo… Foi por isso necessário fazer-se a terapia adequada às personagens envolvida, bem como a eliminação desta droga. 

Carla vivia adormecida ainda num trauma passado – onde a vida e a esperança tinham sido reduzidas a zero – algo registado no inconsciente, que não lhe permitia viver totalmente a sua vida presente. Tinha sido afetada na sua vontade, no seu estímulo, na sua energia de vida. Eis as razões da sua suposta autossabotagem – que fazia com que nada funcionasse bem na sua vida atual, permanecendo numa letargia e inércia incapacitantes, bem como numa falta de força e de vontade de ser feliz… a sua alma teria passado por uma experiência limite de degradação humana numa vida pretérita, onde se encontrava desfragmentada – projetando um forte bloqueio que prejudicava até mesmo a própria abundância na sua vida… pois a vítima do holocausto continuava presa dentro do campo de arame farpado – perpetuando-se nela a desistência de viver.

Na realidade, a vítima é uma personagem que tem duas faces. Na primeira continua a manter os mesmos padrões de sofrimento que já todos conhecemos – às vezes em cenários diferentes, na segunda encontramos o perpetrador – que procura uma compensação ou vingança inconscientemente, onde muitas vezes este último aspeto se vira contra si próprio, punindo-se duma forma masoquista. Porém, em qualquer uma das facetas, a personagem é sem dúvida vampírica. Podemos dizer que em todas as feridas da alma humana o vampiro moderno está subtilmente disseminado – pois encontramos vítimas nos lugares mais recônditos da sombra humana. Nascemos por isso atraindo o meio ambiente e circunstâncias – até mesmo os pais muitas vezes, que continuam a perpetuar algo que é necessário mudar em nós e, do qual não temos consciência… 

Se a mente consciente se lembra de algo? Normalmente não. Temos mecanismos internos que apagam os traumas, pois não suportaríamos lembrar-nos de tudo que nos afetou. A realidade, é que as experiências passadas – pela lei da atração – continuam a trazer situações de conflito para o indivíduo. Quando não aceitamos algo que aconteceu num período da nossa vida (as perdas, os conflitos, o destino, ou nosso karma,,,) há uma parte de nós que fica petrificado nesse pretérito conflito, originando uma perda de esperança, permanecendo presa no tempo, – onde passado, presente e futuro se tornam um só. Mesmo quando a alma renasce noutro corpo físico, esse estado de espírito vem como informação no corpo vital – para ser tratado ou resolvido… tal como se fosse uma doença que não ficou curada.

Passadas cerca de oito semanas desta TRM, Carla contou-me que estava cheia de trabalho com consultas que tinha para dar, já sem tempo nenhum disponível, dizendo-me que a tinham chamado também para cooperar numa empresa, e de ela própria já estava a ensinar particularmente dando formações na sua área, com bastantes alunos inscritos. Contou-me estar também muito feliz e com uma capacidade e força interna bem diferentes… 

Sobre este caso deverei mencionar que parte do espírito de Carla estava bloqueado e perdido numa outra época, repetindo os mesmos aspetos condicionantes na sua vida presente. A origem do seu problema não seria de algo externo a si… nem tão pouco estaria relacionado só com o plano mental. Carla estava sim presa a processos dum passado esquecido… e o simples conhecimento da origem do que a perturbava não seria suficiente para liberar-se definitivamente desses traumas…

Mea gratia pro solutis innocens Dominus.

A minha gratidão por libertares os inocentes Senhor.

Obrigado pela experiência e também por te poder ajudar Carla, na realidade todos nós nascemos para ser livres…

Benjamim Levy

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